por Ana Luísa D’Maschio / Danilo Mekari – 5 de novembro de 2025

Na última terça-feira de outubro, apenas 30 estudantes apareceram em uma escola que tem aproximadamente 500 alunos no Rio de Janeiro (RJ). O professor Doug Alvoroçado estava organizando uma visita com a sua turma ao Congresso Mundial de Educação, que aconteceria no SESC Flamengo, e precisava das autorizações das famílias para realizar o passeio com tranquilidade. A diretora não tardou a ligar: devido à situação, seria preciso suspender a atividade.

O Colégio Estadual Heitor Lira fica na Penha, bairro carioca cujo conjunto de favelas – denominado complexo – foi alvo da megaoperação policial mais letal da história do Brasil.

No discurso oficial, a Operação Contenção buscava “neutralizar” o Comando Vermelho, e abarcou também o vizinho Complexo do Alemão. Na prática, a ação envolveu 2,5 mil agentes das forças de segurança do RJ para cumprir 180 mandados de busca e apreensão e 100 mandados de prisão em uma área de nove milhões de metros quadrados. O resultado: 121 mortos, sendo quatro policiais. Ainda, 113 pessoas foram presas.

Para além desse rastro de sangue e de um trauma brutal para centenas de famílias e toda a comunidade a seu redor, a operação deixou como legado dias de caos para a capital fluminense. Mais de 200 linhas de ônibus foram suspensas, diversas ruas e avenidas foram interditadas, comércios e serviços foram fechados.

oédson Alves/Agência BrasilManifestação por paz no Complexo da Penha após ações policiais

No campo da educação, o impacto também foi enorme. Segundo a Secretaria de Estado de Educação, 35 unidades da rede suspenderam as aulas durante a quarta-feira (29). Escolas particulares em diversas regiões da cidade pediram que os pais buscassem os filhos por conta da insegurança. Universidades e faculdades também suspenderam seus expedientes.

No âmbito municipal, a situação não foi diferente. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, após pararem por dois dias, as 25 escolas do Alemão e 17 da Penha voltaram a funcionar somente na quinta-feira (30). A SME-RJ também informou à reportagem que, durante todo o ano de 2025, essas unidades permaneceram fechadas por 11 e 10 dias, respectivamente, devido à ocorrências de violência nos territórios.

“Quando o Estado realiza um massacre – e é assim que deve ser chamado, uma chacina –, isso é sinal de fracasso do Estado e da sociedade”, afirma o professor Paulo Carrano, da Faculdade de Educação da UFF (Universidade Federal Fluminense), coordenador do Observatório Jovem do Rio de Janeiro e especialista em juventudes.

Em termos de números, a megaoperação é a mais letal da história do Brasil tem sido comparada ao Massacre do Carandiru, episódio que marcou a sociedade brasileira como prova de uma violência estrutural que impede o aprofundamento da democracia, explica Carrano. Para ele, o país vive hoje um quadro de normalização da barbárie. “O Estado, em vez de ser a cura, acaba legitimando a doença. E é nesse contexto que a escola está inserida.”

Essas incursões, observa o pesquisador, trazem consequências graves não apenas para o processo educacional, mas também para a saúde mental de crianças, jovens e professores.

“Diante de uma realidade como essa, o cotidiano escolar parece até secundário. Mas a escola é um equipamento público essencial de acolhimento. Ela não é uma ilha. Está justamente no meio dessa tensão entre o ideal de um espaço de proteção e o cenário brutal de uma sociedade atravessada pela violência.”

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