Referências para a produção de Entre-vistas


Da esquerda para a direita, os fadistas Antonio Morin e Valdemiro. Do Documentário “O Fado é bom demais”. ICS/Observatório Jovem do Rio de Janeiro. Disponível no canal do LIDE – Laboratório da Imagem Documental em Educação – UFF

Esta postagem aqui no Blog é para auxiliar na produção e análise de entrevistas. Em nossas turmas de Ciências Sociais, Conteúdo e Método (Manhã e Noite) embarcamos na aventura de produzir entrevistas narrativas com o que chamamos “pessoas interessantes”. “Mas como eu vou saber que uma pessoa é interessante?”, perguntou-me uma aluna. Bem, a rigor todas as pessoas interessam. Mas, do ponto de vista de produção de dados para análise algumas pessoas podem ser mais interessantes do que outras; com experiências de vida mais intensas e diversificadas, com percursos biográficos mais ou menos plurais e também, isso não é menos significativo, com distintas habilidades de narração da própria vida. Evidentemente, uma biografia só se constituirá como algo verdadeiramente interessante no contexto da produção da própria entrevista e de sua análise. Assim, a primeira iniciativa deve ser qualificar para si mesmo qual interesse se está enxergando nesta ou naquela pessoa que se pretende entrevistar.  Em outras palavras, numa entrevista se busca estabelecer uma conversação interessada visando a produção de conhecimentos. Desta forma, a pessoa se torna especialmente interessante no contexto de perguntas orientadoras e de um processo interessante de investigação baseado na escuta atenta e bem preparada. A “bola”, então, está inicialmente com você que se encontra com a tarefa de entrevistar e precisa produzir o primeiro movimento para o que será entre-visto; visto entre pessoas que estão para se encontrar num jogo de conversação.

A busca principal ao realizarmos uma entrevista ou um conjunto delas com fins de análise e comparação é por “Compreender” – esse é o título de um dos capítulos do livro A miséria do mundo, de Pierre Bourdieu (1997). O mestre-sociólogo francês alerta para a necessidade de um exercício de reflexividade diante da interação social entre pesquisador e pesquisado que o processo de entrevista provoca numa pesquisa. Essa busca do agir reflexivo teria, em última instância, a finalidade de elaboração de uma comunicação não violenta e que fosse capaz de reduzir os efeitos da “intrusão” que a situação de entrevista pode significar para o entrevistado. Nas palavras do próprio Bourdieu (1997, p. 695):

É efetivamente sob a condição de medir a amplitude e a natureza da distância entre a finalidade da pesquisa tal como é percebida e interpretada pelo pesquisado, e a finalidade que o pesquisador tem em mente, que este pode tentar reduzir as distorções que dela resultam, ou, pelo menos, de compreender o que pode ser dito e o que não pode, as censuras que o impedem de dizer certas coisas e as incitações que encorajam a acentuar outras.

É sob essa perspectiva do estabelecimento de uma relação compreensiva que precisamos seguir ao encontro das pessoas com as quais buscaremos dialogar. Entrevistar numa perspectiva não violenta e provocadora de narrações de si é, antes de tudo, um processo de produção de um campo de interação simbólica. Leonor Arfuch (2010) fala mesmo da produção de um “espaço biográfico” que se constitui entre entrevistador e entrevistado. Este campo/espaço não está pronto de antemão mas se produz e pode se desconstruir durante o encontro. Ele é capaz de produzir (re)conhecimentos e proximidades, mas também distâncias e estranhamentos entre sujeitos situados em distintos lugares sociais: entrevistadores e entrevistados. Assim, ao se dirigir a alguém propondo a constituição de um espaço (biográfico) de encontro, deve-se enfrentar o desafio ético de pensar e cuidar sobre o que fazer com a palavra do outro.

Referências acima.

ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Rio de Janeiro: Eduerj, 2010.

BOURDIEU, Pierre. A Miséria do Mundo. Petrópolis/RJ: Vozes, 2007 pp. 693-713

***

As referencias abaixo – artigos e filmes documentários – não são exaustivas mas podem ajudar neste começo de seleção de temas sociológicos a explorar (família, escolarização, trabalho, migração etc) e pessoas interessantes com as quais podemos conversar para, lembrem-se, COMPREENDER a partir de percursos biográficos individuais o nosso mundo social. Boas leituras, visualizações e escutas!

Artes e manhas da entrevista compreensiva (Artigo) – Vitor Sérgio Ferreira. Saúde Soc. São Paulo, v.23, n.3, p.979-992, 2014
Começar de novo: um estudo sobre percursos biográficos de jovens na EJA. Dissertação de Mariane Brito (Educação – UFF). 
O jovem Milton: a individuação entre a igreja e a educação social (Artigo – Paulo Carrano E Geraldo Leão).

Referências sobre pesquisa biográfica no Observatório Jovem

Assista nosso Documentários:

Jovens do Morro do Palácio (Documentário do Observatório Jovem/UFF)

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