
Imagem de 3 de novembro de 2011. A capa do Charlie Hebdo foi renomeada com “Charia Hebdo” (“Sharia Hebdo” – referência à lei islâmica adotada como legislação em alguns países). No balão de diálogo: “100 chibatadas se você não morrer de rir”.
Os assassinatos na redação da revista Charlie Hebdo por fundamentalistas farão com que a polêmica sobre a liberdade de expressão siga aberta – assim como a ferida da colonização ainda está – durante muito tempo. Muitas coisas estão em jogo. E uma delas é a discussão sobre os limites entre o direito de provocar e o de se sentir ofendido em sociedades democráticas.
Não creio que se deva exigir que muçulmanos ou fiéis de qualquer religião não se incomodem com o humor ou interpretações incômodas sobre suas escrituras sagradas ou objetos de culto e adoração. Ou ainda que estes não se sintam no direito (e mesmo no dever) de cobrar que não religiosos compartilhem das interdições presentes em seu universo simbólico e religioso. Há, contudo, um equilíbrio entre sentimento, pensamento a ação que precisa ser cuidado. Uma coisa é odiar, desprezar ou contestar os chargistas pelas suas mal traçadas charges, outra bem diferente é executar uma sentença de morte.
Para não abdicar de participar de nossa humanidade comum e buscar de melhor maneira a resposta para a pergunta “podemos viver juntos?”, é possível, contudo, fazer como fez a instituição religiosa egípcia Al Azhar*. Em comunicado, esta recomendou que os muçulmanos desprezem aquilo que consideram fruto de “mentes doentias” que “ultrapassam restrições morais e civilizadas”. “A posição do profeta Maomé é muito maior e sublime para ser ofendida por caricaturas imorais”, afirmou o comunicado. Não concordo com a Al Azhar. Penso que as críticas bem humoradas do Charlie eram feitas para combater a violência religiosa fundamentalista e não para estimular a islamofobia. Além do mais, não os considero doentios, mas espíritos livres e artistas geniais.
Porém, não sou muçulmano e não tenho porque contestar mensagem de líderes religiosos aos seus seguidores. E ainda mais esta que é pacífica e do tipo “deixa pra lá” que não vale a pena.
Arrisco dizer que o que que a Al Azhar deu foi um tipo de “beijinho no ombro” desde seu conjunto de valores para os cartunistas sobreviventes do Charlie Hebdo. Melhor assim, a vida continua com difíceis diálogos mas continua…
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Confira a matéria: Islâmicos reclama de insultos em nova edição do jornal satírico.
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