Esta foto fiz neste ano de 2014 com a minha analógica Pentax Spotmatic, antes do início da peça Conselho de Classe que assisti no Espaço Cultural Sérgio Porto, RJ. Hoje, lembrei-me da foto ao me deparar com este “autorretrato” de Nicanor Parra no caderno especial do Prosa & Verso (OGlobo) dedicado ao chileno criador da antipoesia. Para a fruição de professores e estudantes, segue:
Autorretrato (Nicanor Parra)
Considerem, meninos,
Sou professor em um liceu sem brilho,
Perdi a voz dando aula atrás de aula.
(Depois de tudo ou nada
Dou quarenta horas semanais).
Que lhes parece minha cara a bofetadas?
Não é mesmo uma lástima me olhar?
E o que dizer deste nariz apodrecido
Pela cal de um giz tão branco e degradante.
Em matéria de olhos, a três metros
Não reconheço nem minha própria mãe.
O que há comigo? – Nada!
Eu os perdi assim dando aulas, só:
A luz ruim, o sol,
A venenosa luz miserável.
E tudo, para quê?
Para ganhar um pão imperdoável
Tão duro como a cara do burguês
E com odor e com sabor de sangue.
Para que haver nascido como homens
Se a morte que nos dão é de animais?
Pelo excesso de trabalho, muitas vezes
Vejo formas estranhas pelo ar,
Ouço corridas loucas,
Risos, conversas assassinas,
Observem estas mãos
E as maçãs do rosto do cadáver,
Estes escassos cabelos que me restam
Estas rugas tão negras do inferno!
E no entanto eu já fui como vocês,
Jovem, cheio de ideais,
Sonhei fundindo o cobre
E limando as faces do diamante:
Eis me aqui agora
Por trás dessa mesa desconfortável
Embrutecido pela ladainha
Das tais quinhentas horas semanais.
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