(Thaís Carrança)
Segundo o Ministério da Educação (MEC), a ideia de ampliar a jornada escolar se sustenta em estudos que apontam um impacto positivo na aprendizagem com a ampliação da exposição dos alunos ao professor. Um desses estudos, coordenado pelo secretário de ações estratégicas da Presidência da República, mostra que o aumento de dez dias no ano letivo pode elevar o aprendizado do aluno em até 44% no período de um ano. “O estudo buscou avaliar o impacto de uma intervenção, tendo tudo mais inalterado”, explica o economista André Portela, da Fundação Getúlio Vargas, um dos coordenadores da pesquisa. A equipe analisou quase 200 estudos científicos nacionais e internacionais, a partir dos quais elencou 25 atributos do sistema educacional e avaliou como a alteração de cada um deles afeta o aprendizado dos estudantes. No entanto, Portela afirma que não é possível prever o resultado da implantação da medida na prática: “Até que ponto aumentar o nosso calendário escolar em dez dias vai ter um impacto exatamente igual a esse [demostrado na pesquisa], obviamente, a gente não sabe. Certamente, aumentar a exposição do aluno ao professor vai melhorar [o aprendizado]. Quanto exatamente, vai variar de rede a rede, de situação a situação”, afirma. O economista lembra também que, na implementação, diferentemente do estudo, onde o elemento variável é isolado, a mudança pode produzir impactos derivados. “Aumenta o calendário, será que isso não vai fazer com que os professores fiquem mais desestimulados? Ou será que isso não vai aumentar o absenteísmo do professor? Ou fazer com que os alunos faltem mais às aulas? Se esse aumento fizer mudar outras coisas, que prejudiquem o aprendizado do aluno, é claro que não vai dar esse resultado que o estudo encontrou”, pondera. O estudo também analisou outras medidas de ampliação da exposição do aluno ao professor, como a elevação do número de horas diárias, a redução de turmas e do absenteísmo docente e a adoção de cursos de recuperação e de férias. Segundo ele, o que pode determinar qual dessas medidas terá melhor resultado como política pública vai depender do custo de implementação de cada uma delas. Assim, aumentar o número de dias pode ser mais vantajoso do que o de horas diárias, uma vez que dessa forma não é necessário ampliar ou melhorar a infraestrutura das escolas já existentes, como afirmou Ricardo Paes de Barros, coordenador geral da pesquisa, à Agência Brasil. Mas Haddad admite que, qualquer que seja a opção, serão necessários mais recursos para a educação, o que, segundo ele, deve ser alcançado com a elevação para 7% do PIB para a área, prevista no novo Plano Nacional de Educação (PNE), em tramitação no Congresso Nacional. Críticas – O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Leão, repudia o primado da economia na tomada desse tipo de decisão. “Eles têm o desplante de dizer ‘Vamos fazer a mais econômica, aquela que é mais fácil, mais barata’, ao invés de aumentar o número de horas por dia, o que precisaria de um projeto, de uma proposta pedagógica”, critica. A CNTE defende esta segunda opção, através do ensino integral. Para o sindicalista, a proposta vem numa hora ruim, quando professores de diversos estados estão em luta pela efetivação da lei do piso salarial nacional para o magistério. “Primeiro vamos resolver problemas que são essenciais para valorizar o profissional e depois vamos ver essas outras questões, que são importantes, mas não podem vir sacadas do bolso do colete, sem discutir com ninguém. É necessário fazer uma discussão mais ampla”, acredita. O professor da Faculdade de Educação da Universidade de Minas Gerais (UFMG), Juarez Dayrell, discorda em parte. “Eu não acho que uma coisa seja pré-requisito da outra. Agora, que precisa das duas dimensões, precisa. Mas você pode pensar [de forma] concomitante”, diz. O educador vê com bons olhos a proposta do MEC, afirmando, porém, que este tempo maior deve garantir momentos de socialização mais livres entre os jovens. “Se a gente fosse pensar em termos ideais, se tivéssemos equipamentos culturais em todas as regiões das periferias, esse papel não precisaria ser cumprido pela escola, mas isso não é real hoje”, afirma, e sugere que, para a implantação da educação integral, seria necessária a oferta de bolsas de estudo para os jovens do ensino médio público, uma vez que muitos deles precisam trabalhar para se sustentar ou prover para suas famílias. A professora de história da rede estadual paulista Regina Oshiro, percebe no seu dia a dia a dificuldade que os jovens enfrentam. “Lido com os últimos anos do ensino médio. A sociedade hoje demanda cada vez mais que os alunos estudem o tempo todo, é o que se vê, por exemplo, com a expansão do ensino técnico. Os estudantes que fazem técnico além do ensino regular ficam mais estressados, o cansaço é maior, eles faltam mais por não conseguirem acompanhar os dois cursos”, conta. Para ela, portanto, não é apenas o aumento do tempo que define a qualidade. “É preciso levar em conta outras questões, como currículo, condição de trabalho e a própria condição dos estudantes. Da forma como está colocada, a proposta do ministério é inócua”. Paulo Cesar Carrano, da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF), também acredita que não é possível discutir a ampliação da jornada sem tratar das condições atuais da escola: “Hoje, apenas aumentar os dias letivos ou o horário diário, será oferecer mais do mesmo: escolas sem condição de oferta, prédios inadaptados, professores mal remunerados”. Segundo ele, a ampliação da permanência na escola deve ser acompanhada de um aumento no leque de atividades. “Devem ser oferecidas atividades relacionadas a passeios, arte, música, clube de ciências, ou seja, a escola deveria ser um espaço mais plural em termos de experiências educativas”, afirma. “É positiva a preocupação do ministério, mas se a questão for encarada apenas do ponto de vista quantitativo, do número de horas, é reducionista. Quando o conjunto de atores envolvidos com a escola forem ouvidos, não apenas os economistas, eu creio que o debate vai ganhar outro patamar”. Fonte: Blog Tô no rumo |
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