Uol Notícias – Educação 25/09/2011 – 07h00
“A escola precisa mudar muito. Precisa evoluir muito em questões pedagógicas, nos métodos de ensino, no próprio relacionamento dos professores com os alunos”, afirma o professor da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) Evandro Camargos Teixeira. Ele defendeu, neste ano, uma tese de doutorado sobre as relações entre violência e abandono e desempenho escolar.
“Não é uma questão de coerção. Isso não vai acabar com o problema. Não adianta colocar a polícia. Ela vai lá para tentar resolver o problema que acabou de acontecer. É [preciso] uma política de conscientização de todos os setores”, afirma Teixeira.
Para Paulo Carrano, professor da Faculdade de Educação da UFF (Universidade Federal Fluminense), não houve muitas mudanças nas escolas nos últimos anos. “A disciplina escolar não mudou muito, a disposição das carteiras [na sala] não mudou muito”, diz.
Professor
Essas mudanças, afirma Carrano, também devem passar pelo professor. “O ‘manda quem pode, obedece quem tem juízo’, tem que ter lugar a outro tipo de autoridade. Os professores mais escutados [pelos alunos] são os que têm a autoridade do saber, que sabem o que estão dizendo, e os que têm a autoridade do afeto, que escutam, que dão valor às experiências que os alunos já trazem. O que consegue juntar as duas é o melhor professor.”
De acordo com o especialista, é preciso um esforço para entender as razões das atitudes violentas. “Os episódios de violência contra os professores poderiam de fatos ser diminuídos com ações que investissem mais na busca da compreensão de porque que surge o fenômeno da violência, do bullying. Se a gente não entender o que gera esse comportamento, não vamos ter soluções eficazes”, diz Carrano.
Família
Evandro Teixeira afirma também que é fundamental um acompanhamento de perto da família. “O próprio aluno se sente mais seguro ase a própria família está participando”, diz. Carrano concorda: “As crianças reproduzem aquilo que elas levam. Se as boas maneiras não aconteceram na família, a escola tem um problema.”
Fonte: Uol Notícias – Educação
Na matéria acima, as imprecisões não me parecem provenientes de má fé do repórter. Identifico, contudo, algum tipo de vício de origem que pode levar à consideração de que a violência da criança em questão teria alguma “fonte” original. Numa perspectiva de senso comum, a responsabilidade da violência na escola recairia nas famílias que não saberiam bem formar os filhos que se fazem agressores. Ou mesmo numa má formação de professores que não saberiam lidar com o “aluno-problema”. O que quero recuperar da entrevista é a perspectiva que adotei no diálogo com o repórter. Afirmei que, se há um problema na sala de aula ou mesmo na família, o que se precisa reconhecer é a dimensão problemática da relação. Ou seja, se eu digo “o meu aluno/filho é um problema” o que tenho, em verdade, é um problema de relação que necessita de atenção. Precisamos reconhecer que a situação do exercício da docência na escola, com suas salas superlotadas, professores sem apoio institucional, baixos salários etc, dificulta que se realize esse movimento de busca de compreensão do problema como um dado relacional. Não tenho fórmulas mágicas e acredito que ninguém as tenha, entretanto, desconfio que não sairemos da situação problemática sem ampliarmos nossos níveis de compreensão sobre os próprios fenômenos que identificamos e nomeamos como “violência escolar” ou “violência na escola”, ou, ainda de forma mais imprecisa, de “bullying”. Em outras palavras, que façamos o esforço para compreeender a violência na escola, qualquer que seja ela. E compreender não é o mesmo que justificar ou aceitar. Trata-se de abrir caminho para que a busca de solução se dê com base no conhecimento da complexidade dos fenômenos que identificamos problemáticos ou violentos. Fora disso, seguiremos reproduzindo velhos conservadorismos que apontam o dedo para cá ou para lá em busca de culpados únicos para a “violência na escola”. Da mesma forma, e fruto da imprecisão conceitual, decretaremos com muita facilidade uma “epidemia de violência” capaz de gerar pânico moral e atitudes reativas. O resultado disso é a adoção de soluções mágicas – tais como a de detectores de metais nas escolas ou policiamento escolar ostensivo – que só agravarão o problema que pretendemos solucionar. Não vislumbro alternativas fora do exercício da escuta e da mediação dialógica que encontra na palavra e na argumentação os seus canais privilegiados de solução dos conflitos.
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Professor
Compartilho de sua análise (não a da reportagem), mas ressalto que o que precisa mudar é a POLÍTICA EDUCACIONAL. É inaceitável que a escola pública continue sendo um depósito de crianças e adolescentes cheios de problemas que NUNCA SERÃO SOLUCIONADOS APENAS pela escola, muito menos por seus professores. Estas crianças e jovens são lançados à própria sorte, sem NENHUMA assistência, mesmo detectados os problemas comportamentais, entre outros que não são da competência do professor analisar nem tirar conclusões. O que o governo precisa é ter, de fato, preocupação com a educação neste país, não ser apenas discurso de campanha eleitoreira. Os professores estão vendo esta bomba relógio de forma inerte, sem qualquer reação e, pode ter certeza, ela vai explodir todo mundo, não só os que estão vivenciando os problemas, não, a sociedade toda vai sentir os reflexos deste descaso. Convido-o a passar um dia que seja numa escola pública, o senhor vai poder ver de perto o que acontece de verdade nesta instituição relegada ao desprezo social e político.
Profª Luciana – Santo André – SP
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