Num passeio descomprometido pela google books esbarro com esta publicação independente do Armando Barros, nosso inquieto, polêmico e recém-falecido amigo da UFF. Quer dizer, da UFF não só! Armando era dos Guaranys, dos deficientes visuais, da fotografia, das andanças pelo Engenho Novo, o Centro do Rio, Niterói, Angra dos Reis, Brasil, também bordejou por Paris… Armando era do mundo. Agora é da mesma matéria pela qual se constituiu professor e pesquisador: se fez memória! Tenho saudade até mesmo das fraternas brigas que tivemos por motivos variados. Esta publicação independente multitemática não valia e nem vale ainda pontos na Capes, nem mesmo na nova classificação do Qualis Livros. Aliás, não cansei de avisá-lo da menosvalia acadêmica dos e-papers. Ele ouviu? Nem um pouco e ainda bem. Mas, que importa se a publicação é ou não “qualis” A, B ou C, isso para nossas vidas para além das classificações e rankings? Ela está aí, ela é, comunica coisas e dá testemunho de quem passou por aqui e ainda nos diz coisas. O capitulo “A universidade e a História no olho da rua” foi a porta de entrada pela qual descobri a versão on line do livro enquanto flanava pela ferramenta do Google. Neste capítulo, estou citado no primeiro parágrafo como crédito dado por Armando pela atividade que desenvolvi com alunos da graduação em Pedagogia na UFF em fins dos anos 90. A atividade cultural “A educação no Olho da Rua” foi inspiração para esse artigo de Armando que dá boas vindas aos calouros e os provoca a não aceitar a idéia de que a universidade é uma experiência intra-muros. A sua beleza e razão de ser universidade está lá fora, na rua, no diálogo com o povo que a mantém e com o qual devemos dialogar para que a noção de universidade pública faça sentido. Alô, alô, coordenação do Trote Cultural da UFF! Que tal presentear os calouros com o texto de Armando e provocar o arejamento das novas consciências que chegam à universidade? A referência à Praça do Gragoatá, sua diversidade e vívida informalidade também é oportuna neste momento de arroubos autoritários da Prefeitura de Niterói que busca cercar, cercear, a praça que é do povo. Isso apenas para assinar a sua incapacidade de mediar o estabelecimento de uma ordem democrática que estimule a convivência cultural e pacífica nas praças da cidade. Bom, mas este é outro assunto que agita a vida política de Niterói. Não tenho dúvidas que Armando teria o que dizer e fazer sobre isso.
Barros, Armando Martins de. Breves Notas ao Ensino de História. Rio de Janeiro: E-papers, 2003.
Carrano, sou de Londrina, professor da UEL. Minha vida profissional tem um capítulo AA e outro DA (antes e depois do Armando). Em 1991, ainda professor do Bennett, ele foi ministrar módulos de um curso de especialização na cidade de Carmo (RJ) para professores da rede estadual. Eu era um destes professores. Naquela época, pós-graduação stricto sensu era coisa que não passava pela minha cabeça nem dos meus colegas. E o Armando “botou pilha” em alguns de nós e, no ano seguinte, lá estava eu no Mestrado em Educação da UFF. A partir de 1998 passei atuar no ensino superior. Vim para o Paraná, mas sempre em contato com ele. Todavia, a distância naturalmente vai diminuindo a frequência desta interação. A última vez que fiz contato com o Armando foi no primeiro semestre de 2010, quando ele me procurou para fazer parte da banca de uma orientanda dele. Infelizmente, não pude ir. Já de alguns anos sabia dos problemas de saúde pelos quais ele vinha passando. Agora, incomodado com o silêncio dele de tanto tempo, tentei fazer novo contato. E-mail, telefone… nada. Tudo o que via referente a ele na internet era anterior a 2010. Até que, através desta sua postagem, acabei de saber do falecimento do nosso amigo, ocorrido há mais de um ano. De qualquer forma, quero agradecer e parabenizá-lo pelo texto, um belo e justo tributo à memória do nosso querido Armando.
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Caro Núbio, grato por seu comentário. Ele me fez desacelerar neste dia, mais um, de correria pelos afazeres acumulados para lembrar do nosso amigo comum, Armando. Sem dúvida, ele era este estimulador do pensar-agir. É isso, sigamos mantendo vivos ao memorar os que se foram ainda estando por aqui e nos comunicando experiências. Um forte abraço,
Carrano
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Que linda lembrança… Sabe professor Carrano, fiz parte da construção deste livro… estou até na capa dele! Sou professora e atuo na educação infantil do município de Niterói, e tenho as minhas aulas pautadas e regidas por essas idéias, que Armando tanto cantava pelos corredores da universidade, sempre que penso em minhas aulas, penso nos gostos, nos cheiros, nos caminhos da cidade, bom… tudo que faz da cidade historia e nós construidores e construídos por essas experiências. Hoje trabalho em Itaipu e desenvolvo com meus alunos a pesquisa: Memória e história de Itaipu, partindo de suas memorias e historias conhecemos Itaipu, local de moradia das crianças, e essa idéia nasceu de tudo que o Professor Armando me ensinou.
Fui orientanda dele e sempre penso: “- Será que ele LEU a dedicatória que fiz a ele na minha monografia?” (rs) penso sempre nisso… sempre me pareceu que seria importante homenagear alguém que mudou a minha prática cotidiana de forma tão significativa… quando ando pela praia de Itaipu, quando piso naquela areia com meus alunos… me lembro sempre dele e fico feliz por ter sido sua aluna, pois sem esse encontro jamais seria a professora que sou hoje.
Erika David
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Olá, Erika! Este seu comentário ficou perdido por aqui e só agora o encontrei. Muito legal este seu depoimento. Tenho certeza que Armando leu sua dedicatória.
Forte abraço!
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