Em Quissamã, na região Norte Fluminense (Estado do Rio de Janeiro) existe um fado que remonta aos tempos dos engenhos de açúcar, «casas
grandes» e senzalas. As suas origens encontram-se envoltas em mistério. Porém, no mito popularmente mais enraizado reivindica-se que «o fado é de Deus!» – por isso é dançado em cruz. Violas e pandeiros acompanham este fado dançado e cantado por vezes, ao desafio.
(trecho de apresentação na capa do DVD do documentário “O fado é bom demais…”)
Neste finalzinho do estágio de seis meses no Instituto de Ciências Sociais de Lisboa tive a satisfação de trabalhar na edição e ver terminado o documentário sobre o Fado de Quissamã. Filmamos em 2009 naquela cidade do Norte Fluminense e levamos as imagens para edição em Lisboa. O filme tem a duração aproximada de 40 minutos e o trailler que já postamos no Youtube tem 3 minutos. O triste foi saber que um dos nossos entrevistados, o Sr. Valdemiro, operário da cana-de-açúcar que fez da viola de fado “profissão”, faleceu recentemente. Uma pena que ele não possa estar conosco no lançamento que pretendemos fazer em Quissamã no mês de agosto de 2010, período em que o prof. José Machado Pais, que provocou e dirigiu o filme, estará no Brasil. Enganam-se aqueles que buscarem no Fado de Quissamã semelhanças diretas com o Fado que se pratica hoje em Portugal, mas também pode ser enganoso dizer que não existam vínculos históricos e culturais entre esses dois fados que, além do nome que os identifica, deixam pistas recíprocas de terem se encontrado em algum momento da história. É possível que o elo seja o Lundú dos negros brasileiros que também foi dançado em Portugal e do qual teriam se originado as primeiras formas populares de fado urbano dançado no século XIX. No Museu do Fado, em Lisboa, vi uma aquarela com dançadores de Lundú numa das primeiras estações da linha do tempo que conta a história do Fado português naquele bonito museu. Mas isso é assunto para os sabedores dos caminhos dos fados do aquém e do além mar, limito-me apenas a replicar o que tenho ouvido e lido de gente que entende do assunto. O filme não se propôs buscar as origens do Fado brasileiro mas sim registrar a prática e ouvir as narrativas dos fadistas de Quissamã que generosamente conversaram conosco, cantaram e dançaram permitindo que pudéssemos reunir material para esta edição que ganhou título inspirado na definição do Sr. Antonio Morin, um sujeito boa praça que nos convenceu que o fado é bom demais…
A produção do filme foi resultado de uma feliz parceria entre o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e o nosso Grupo de Pesquisa do Observatório Jovem da Faculdade de Educação da UFF. Além da parceria docente entre eu e o prof. José Machado Pais, formou-se um vínculo de trabalho cinematográfico entre estudantes bolsistas do curso de cinema da UFF (Luciano, Dudu e Sarah) e alunos do curso de cinema da Escola Politécnica de Comunicação Social de Lisboa (André e Jorge). A garotada não se conhece pessoalmente, mas tenho certeza que vão se reconhecer entre o trabalho de produção, filmagem, sonorização e edição.

Confira o trailler enquanto aguardamos o filme chegar ao Brasil.






Deixar mensagem para Paulo Carrano Cancelar resposta